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Zine de Pão

Caderno de notas sobre farinhas, leveduras e temperaturas

Zine de Pão

Caderno de notas sobre farinhas, leveduras e temperaturas

16.Jan.13

Oficinas de Pão na Mercearia Criativa

Collage Oficina de Pão - Mercearia Criativa

Alguns leitores já certamente se deviam perguntar "Onde anda o post sobre as Oficinas que o tipo fez na Mercearia Criativa?". Aqui está o dito cujo. Quis deixar a poeira (ou a farinha...) assentar antes de escrever algo sobre as Oficinas, por não ter tido tempo e para querer reflectir sobre como a coisa correu. Resumindo a coisa em poucas palavras para aqueles que não tiverem paciência para ler o resto do post - foi das coisas mais engraçadas e divertidas que já fiz na minha vida.

 

Partilhar aquilo que eu sei e fui aprendendo ao longo destes anos de "obsessão panarra (para usar uma palavra emprestada dos espanhóis)" com interessados por pão foi fantástico. Em três horas (e mais qualquer coisinha) conseguimos falar sobre o que faz um bom pão, a importância dos ingredientes, a importância de como se amassa o pão e como deve ser amassado, como tender, como cozê-lo e tentar perceber o que acontece por detrás do pano a um nível químico. 

 

Tudo isto começou com uma inocente pergunta na página da Zine no Facebook onde queria sondar o interesse eventual de quem lê a Zine numa workshop sobre pão artesanal - uma maneira de eu mostrar ao vivo muitas coisas que às vezes é difícil eu mostrar no blogue através de imagem ou através da prosa. Depois apareceu alguém que viu essa pergunta e me enviou uma mensagem via Facebook - o instigador disto tudo, o Carlos Moura Carvalho da Mercearia Criativa que gentilmente pôs à disposição o espaço da mercearia bem como se propôs a tratar da organização toda. Por estar fora de Portugal, confesso que pouco conhecia o espaço da Mercearia Criativa. Já tinha lido em alguns blogues e jornais online sobre esta peculiar mercearia mas pouco sabia mais sobre o assunto. No entanto, ao começar a falar com o Carlos fiquei a conhecer muito mais do projecto e a coisa fez clique. Partilhamos imensas ideias, ambos defendemos o artesanal, o produzido localmente, o retorno aos processos artesanais e às nossas origens, a qualidade dos produtos portugueses e mais que tudo partilhamos uma grande paixão pelo pão. Estava então encontrado o espaço e o anfitrião desta workshop.

 

Após um rápido planeamento de algumas semanas através de muitos e-mails, mensagens de facebook, imagens de possíveis cartazes para aqui e para ali decidimos avançar com o anúncio da workshop, entretanto renomeada como Oficina pois ambos achámos que se identificava mais com o espírito da MC, - o português primeiro! - e o que aconteceu a seguir nenhum de nós podia ter previsto. Não nos passava minimamente pela cabeça que em menos de 24 horas os lugares tivessem todos esgotados e muita gente chateada por não terem conseguido lugar. Confesso que ao ver o interesse de tanta gente fiquei ainda mais nervoso do que estava, mas o Carlos e amigos próximos lá me asseguraram que a coisa havia de correr bem... e decidimos fazer o anúncio sobre uma segunda oficina. Espantoso! Esgotou em menos de 12 horas! Estava na altura de começar a afinar o programa da Oficina.

 

Um dos maiores receios era ter pouco tempo em três horas para poder explicar tudo aquilo que queria e além disso existia sempre o risco de quando me meto a falar sobre pão a coisa descarrilar e sair fora do plano. Todavia, o maior risco era 'Como raio é que vou transportar o meu isco daqui para Portugal e será que vai chegar lá vivo?'. Quer acreditem, quer não, o isco fez uma viagem tranquila na bagagem de mão num recipiente de 100ml comprado para o efeito. Chegado a Portugal, fiquei imediatamente receoso com as temperaturas, tinha planeado a Oficina com um certo timing mas estas temperaturas que se faziam sentir em casa estavam a abalar tudo. Em casa dos meus pais estavam 18C e eu estava habituado a uma temperatura interior de 21-22C. Cheguei a temer pela sobrevivência do "tamagotchi" (como a Fátima Moura lhe chamou) mas com alguns ajustes a coisa foi ao lugar e reparei que o isco chegava ao ponto aproximadamente 16 horas depois de ser alimentado em vez das 8 ou 12 horas a que estou habituado. Mesmo assim, ainda havia o problema de colocar tanto discurso e métodos em três horas mas fui cortando coisas aqui e ali para me focar no essencial e o que decidi foi que iria fazer uma Oficina não sobre receitas de pão, mas sim sobre o método. Eu queria que as pessoas deixassem a Oficina e fossem para casa experimentar e encontrar o seu próprio pão em vez de se agarrarem a uma única receita ou duas. "Experimentem!" foi sempre a palavra de ordem.

 

Chegada a primeira Oficina no dia 29 de Dezembro estava eu numa pilha de nervos. O pão que tinha planeado cozer antes da workshop estava a demorar demasiado tempo a levedar e as coisas começavam a ficar apertadas. Felizmente no fim de contas lá tudo se resolvou mas os nervos não diminuiram. Lá fui eu, ajudado pela família, carregado de sacos de farinha, iscos, bannetons (ou falsos bannetons... mais sobre isso para outra altura), termómetros, lames, etc. Às 16:00 começou a primeiríssima Oficina de Pão. O resto das três horas passou a voar e ultrapassámos esse limite! Tanto pela coisa dos nervos, por ser a primeira vez e pela fantástica audiência que tive. Eu tinha planeado para muita interactividade pelos participantes mas nunca sonhei que fosse assim tanto. A curiosidade e paixão era tanta que acabámos por falar de vários assuntos que eu não tinha planeado falar e quem sofreu com isso foi todo o planeamento. No final senti contudo um sentimento de um trabalho bem feito e ao julgar pelos relatos de alguns dos participantes, a primeira Oficina foi um sucesso! Tanto eu como o Carlos ficámos extremamente contentes com o resultado e ficou consumada a ideia que foi uma boa decisão apostar numa segunda oficina.

 

A segunda Oficina realizou-se no dia 5 de Janeiro de 2013 e, se os participantes da anterior me permitem dizer, correu ainda melhor que a primeira. O plano encaixou melhor desta vez, a minha capacidade de moderar o debate também foi melhor e deu para cumprimos o plano à risca. A vantagem disso é que tivémos tempo para desgustar o pão que tinha feito em conjunto com alguns dos produtos da Mercearia Criativa. Foi a cereja no topo do bolo!

 

Como resumo final, para mim as duas Oficinas foram um sucesso pessoal Vale a pena revelar que em ambas as edições havia gente de todas as idades, diferentes backgrounds mas com um interesse comum pelo pão artesanal. É bonito ver como algo tão simples pode unir pessoas de todos os jeitos e feitios. Para mim, foram vocês que fizeram disto um sucesso e foi para vocês que as Oficinas foram planeadas. Espero que tenham desfrutado tanto dessas duas tardes de Inverno como eu o fiz. Se tiverem comentários e sugestões já sabem que os podem deixar aqui no blogue ou então enviar por e-mail.

 

Não posso deixar passar um agradecimento ao meu amigo Paulo Pina, que esteve nas duas oficinas a servir como uma espécie de assistente (ou "pau para toda a obra"), à Susana e à Fátima da Mercearia Criativa que são pessoas fantásticas e que nunca se chatearam comigo por eu ter ficado na Mercearia quase até à hora de fecho em ambas as ocasiões. Por último, um grande agradecimento e um abraço ao Carlos Moura Carvalho por se não fosse o seu espírito de iniciativa a chegar-se à frente e ter a gentileza de colocar o espaço da Mercearia Criativa à disposição nada disto teria acontecido. Se estiverem por Lisboa e ali pertinho da Alameda dêem um salto à Mercearia Criativa pois vale a pena. É um espaço completamente diferente do que já tinha visto em Lisboa e uma lufada de ar fresco, uma mercearia ao mesmo tempo tradicional e moderna, cheia de vida e com produtos deliciosos escolhidos a dedo pelo Carlos. Passem também pela página do Facebook deles para vos abrir o apetite... não digam que não vos avisei.

 

P.S: Oficinas no futuro? Provavelmente sim. Fiquem atentos... :)


Fotografias: Na collage em cima estão algumas fotos tiradas durante a oficina pelo Paulo Pina e podem ver mais na página do Facebook da Mercearia Criativa, e algumas fotos tiradas pela Moira do Tertúlia de Sabores e pela Ana Vicente do A Mesa de Luz.

14.Jan.13

2012 em revista (e um pouco de 2013 também)

Chegou aquela altura do ano onde eu costumo fazer este tipo de posts e de revisitar o ano que passou. Já o tinha feito em 2011 e agora fica aqui o deste com um pouco de batota à mistura, perca pela tardia e incluí um pouco de 2013.

 

  • A Zine recebeu perto de 30.000 visitas únicas este ano um aumento de um pouco que o dobro das pessoas que o ano passado (16.000). Dessa quantidade de pessoas houve umas quantas que acharam que o blogue valia visitar uma segunda vez, 16.000 para ser exacto. A maior parte das visitas veio de Portugal, Brasil, Reino Unido, Estados Unidos e Espanha. Olá, Oi, Hello, Hi, Hola!
  • Estive quase quase a poder ir ver ao vivo a partipação da equipa sueca de panificação na Le Coupe du Monde de Boulangerie mas no fim acabou por não dar. Isso não os impediu de trazerem para casa o 4ºlugar e dado que as equipas no top 3 eram de outro continente que não a Europa, vieram de lá com o título Melhores da Europa!
  • Quando as palavras me faltavam publiquei uma mão cheia de vídeos inspiradores.
  • Estagiei numa outra padaria durante o verão e a experiência foi enriquecedora.
  • Participei num concurso na televisão sueca chamado "Hela Sverige Bakar" e cheguei até meio. Nada mau para quem na realidade só gosta de fazer pão!
  • Publiquei a pedido de muitas famílias uma receita de Broa de Milho. Penso que ainda tem espaço para ser melhorada pois ficamos com um pão demasiado compacto.
  • A desafio do Carlos Moura Carvalho da alegre e genial Mercearia Criativa fiz a minha primeira Oficina de Pão! O melhor de tudo é que não foram só uma, mas sim duas! Mais detalhes sobre as Oficinas noutro post daqui a uns dias...
  • Mudámos de casa, ou melhor de endereço, pois podem aceder à Zine de Pão através do URL http://zinedepao.pt. O antigo também funciona e continuamos com orgulho a fazer parte dos Blogs do SAPO!
  • Andei para aí a queixar-me aos sete ventos que tinha uma dificuldade imensa em encontrar moleiros que moessem cereais em mó de pedra em Portugal, mas acabei por descobrir uns quantos e visitei um: o Moínho do Papel em Leiria, gerido por fantásticas pessoas, apaixonadas por esta arte em desaparecimento e num fantástico sítio onde fui passar um dia a aprender mais sobre as artes do moleiro. Estou a preparar também um post sobre a visita! A não perder! NOTA: para os mais atentos, eu escrevi moínho de vento mas pouco me importa qual a força que faz girar a mó - o Moínho do Papel é movido a água, por exemplo.
  • Fez um ano em Novembro desde que comecei a trabalhar todos os fins-de-semanas na Söderbergs Bageri. Muitas vivências e experiências difíceis de retratar em prosa aqui no blogue. Um dia faço um esforço para tentar relatar.
  • Fiz uma espécie de Calendário de Natal, daqueles que se abre uma caixinha cada dia para se encontrar um chocolate diferente a cada dia mas com utensílios para o padeiro amador em vez de chocolates. Mais saudável, não é?
  • Fomos também nomeados para blogue do ano 2012 na votação que está a decorrer aqui, se assim o entenderem podem votar na Zine! Até dá para votar mais que uma vez, se votaram todos os dias uma vez :)

Mais um ano cheio de acontecimentos, alguns relatados aqui pela Zine e outros que caíram no esquecimento. Espero que todos tenham tido umas excelentes entradas em 2013 e que este ano vos traga muito pão, do bom, pois claro.

 

Fotografias: Na collage em cima estão algumas fotos tiradas pela Moira do Tertúlia de Sabores e pela Ana Vicente do A Mesa de Luz. As restantes estão no flickr da Zine.