Amassar à mão
Sou o primeiro a admitir que comprei há uns bons meses uma máquina para amassar o pão, um daqueles assistentes de cozinha como todos vocês conhecem. Tem sido companheiro fiel até ao dia em que decidi voltar às raízes e amassar o pão à mão. Agora está dentro do armário, triste e cinzento, à espera do dia em que volte a ser o companheiro de fornadas, o dia em que eu tiver desenvolvido uma melhor sensibilidade e capacidade de reconhecer quando a massa está no ponto.
"Porquê amassar à mão? Isso dá muito trabalho!" oiço umas quantas vezes da boca de amigos também de alguma maneira apaixonados por esta arte da panificação. A decisão partiu da vontade de desenvolver essa capacidade de sentir com o tacto quando uma massa está mais ou menos no ponto. Todavia não teria tomado tal decisão se não tivesse ouvido falar da autólise e da maneira de amassar que eu baptizei de "sovar-dobrar". A primeira reduz o tempo que é preciso amassar ao deixar a farinha e água fazerem o seu trabalho natural com o decurso do tempo. A segunda torna as coisas mais engraçadas (e barulhentas) do que as técnicas tradicionais de amassar e quero acreditar que é mais eficiente - fica o teste para outra altura.
Deste modo, nota-se a transformação da massa de uma mistura solta de água e farinha numa massa flexível, extensível e coesa. Deste modo, irracionalmente começamos a desenvolver um tacto especial que nos permite fazer melhores julgamentos quanto ao aspecto, textura e até cheiro da massa pois todos se transformam durante a amassadura. A amassadura acaba por ser um processo relaxante ("tá maluco" - dizem vocês) também pois obriga-nos a abrandar e a levar tempo a fazer as coisas, algo que nos dias de hoje não é comum pois procuramos sempre o atalho mais curto para atingir um fim.
E vocês? Preferem máquina ou amassar à mão?